30/12/2016

céu e inferno, sim sinhô

o céu e o inferno, rapaz
tá na cabeça da gente
pode ser no gozo da alegria
ou na dor da morte de cada dia
não é lá distante não
é aqui pertinho
cá dentro
do passado amargurado
ao colo abençoado
tudo é marca que se guarda
o peito, às vezes, cala
mas sente

a mente se mistura com tanta informação
tem dias que só vem coisa boa
tem dias que é só escuridão

às vezes fico tonto, zonzo, querendo aquietar tudo
mas tem que ser de mansinho
com calma
como um anjinho
que compreende essa confusão
que respira fundo na imensidão
e vai ouvindo devagarinho

o barulho tem horas que bate no peito
congela tudo
dá um desespero porque não tem pra onde fugir
mas lá debaixo
bem pertinho
tem o colo, o aconchego
as lembranças dos dias bons
é esse que se deve pensar
relembrar

é a calma e o silêncio consciente que vence o barulho
é se conhecer
e entender o nosso céu e inferno de cada dia, sim sinhô

17/10/2016

conhece-te

no beijo profundo
sinto o hálito que vem de tuas emoções digeridas
de tuas percepções sentidas
daquilo que tu não vistes 
da escolha que tu não fizestes

esse sabor muda junto com a tua fala
e tu te torna o instante
o sopro que tocou
a lágrima que enxugou
o grito que calou

e o sussurro mudo se torna amigo
ou é cruel com tua carne
mas teu delírio já não te enlouquece
porque já te é conhecido
o fogo que te atormenta
e o afago que te acalenta


21/03/2016

fiel companheiro

vens mais uma vez sugar da minha boca o ar que me aquece                                    
tua língua é navalha que corta e sangra mas também adormece             (tú)
me fundo em teu corpo e me espalho por tuas faces traiçoeiras
meu fiel companheiro que desenha quem eu sou
que nem sei quando não é dor
que nem sei por quê
que nem sou são
quando depressa
sou só

23/01/2016

dor potencializa vício

essa tarde que se passa esquecida me roubou o ânimo 
me rasgou a plenitude com as unhas do tempo e da saudade
e me trouxe goles secos e amargos 
pelos pensamentos que não me consolam o corpo

18/01/2016

novos experimentos

De volta ao velho espelho que me mostra as feridas abertas; sangraram por tanto tempo nessa estrutura frágil.
Aos reflexos que ainda saem dessas poeiras sujas de teus cheiros e teus gritos; me sufocaram a voz.
Do amor que ficou cego em teus espinhos árduos e febris
Do contentamento que nao se encaixa em tuas cores pálidas
Do desgosto em te encontrar sem me sentir

02/01/2016

catarse

o ano que ainda não chegou já arde em meu corpo. expectativas vãs que corroem meu tempo. o vento que foge da minha mão retorna me sufocando; não há controle na alma da vida e a angústia da desordem me sangra as mãos e rouba a minha lucidez. o desencaixe do meio social esmaga o grito de harmonia que soa pelos poros do corpo tornando-o cada vez mais vazio e pálido.